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quarta-feira, janeiro 26, 2011

Lipostabil

Por um tempo, foi o milagre do verão. Em troca de dez sessões de injeções (doídas, é verdade) ao longo de dois ou três meses, o pneu, a barriga e o culote indesejados sucumbiam sob a ação do Lipostabil, um medicamento à base de fosfatidilcolina, substância derivada da soja que tem a capacidade de "derreter" gorduras. Ocorre que o milagroso Lipostabil, produzido pelo laboratório Aventis Pharma na Itália e na Alemanha, apresentava dois probleminhas. Primeiro, foi testado e aprovado unicamente para o tratamento de doenças coronárias causadas pelo acúmulo de gordura nas artérias; seu uso estético é inovação ainda sem embasamento científico rigoroso. Segundo, a Aventis jamais pediu a aprovação do registro do Lipostabil no Ministério da Saúde do Brasil, o que faz dele, em última instância, um medicamento sem licença para ser comercializado ou consumido no país, seja para o fim que for. Diante da sofreguidão com que o remédio passou a ser importado ou reconstituído em farmácias de manipulação nos últimos meses, para atender à procura dos vorazes consumidores, o Lipostabil acabou atropelado pelo próprio sucesso. No último dia 9, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou portaria que proíbe a importação, a distribuição, o comércio e o uso, para fins estéticos, de todo medicamento injetável, comercial ou manipulado, que contenha fosfatidilcolina. Quem não obedecer será notificado, podendo receber multa de até 1,5 milhão de reais e ter o estabelecimento fechado. 


Médicos e usuários da chamada "lipo light" se indignaram. "Estão fazendo com o Lipostabil o mesmo que com o Botox, que só foi liberado para eliminar rugas no ano passado, dez anos depois de começar a ser usado para esse fim", fulmina a dermatologista paulista Patrícia Rittes, uma das maiores especialistas na utilização de Lipostabil no país, com mais de 2.000 pacientes submetidos ao procedimento. "Realmente existe um uso indiscriminado do produto, e sou favorável ao controle. Mas proibição, não", acrescenta Patrícia, que diz empregar Lipostabil para fins estéticos desde 1995, sem nunca ter registrado nenhuma complicação. Mesmo assim, Patrícia, como a maioria dos colegas, decidiu parar com as aplicações – notícia particularmente dolorida para quem já passou por quatro, cinco sessões de agulhadas e sofrimento. A argumentação da Anvisa para publicar a resolução é ancorada no fato de que não existem pesquisas detalhadas sobre os efeitos da fosfatidilcolina no combate à gordura localizada. Se não há estudos, não há como garantir a inexistência de efeitos deletérios – embora tampouco se possa comprovar o contrário. "A resolução surgiu de uma preocupação com os possíveis riscos do uso desse medicamento para fins estéticos. Não sabemos, por exemplo, qual o efeito do tratamento a longo prazo", diz Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, diretor da Anvisa. O próprio laboratório Aventis faz questão de se distanciar da "lipo light", alertando, em um comunicado, para "os riscos decorrentes do uso inadequado do medicamento".